A pausa para ir à casa de banho pode ser, para muitos, um momento de relaxamento e privacidade. Sentados na sanita, sem ninguém por perto, entretêm-se a jogar no telemóvel ou a ler.

No entanto, estar muito tempo sentado na sanita pode não ser uma prática aconselhável e há riscos associados a este comportamento. Em declarações ao Viral, uma gastroenterologista explica quais são as possíveis consequências desta prática.

Ficar muito tempo sentado na sanita faz mal?

Em declarações ao Viral, Ana Célia Caetano, gastroenterologista no hospital de Braga e investigadora no Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde (ICVS) da Universidade do Minho, confirma que “estar sentado muito tempo na sanita pode aumentar o risco (ou agravar, se já existentes) algumas patologias como a obstipação, em particular os distúrbios da defecação ou as doenças hemorroidárias”.

Nas palavras da especialista, “o excesso de tempo sentado na sanita pode contribuir para alterar os vetores de força dos músculos do nosso pavimento pélvico, contribuindo para a sua descida ‘não normal’ ou não fisiológica, aumentando o risco de prolapso dos órgãos pélvicos ”.

“Isto pode traduzir-se em sintomas de obstipação, dificuldade em evacuar, esforço excessivo e mesmo outros sintomas pélvicos, como queixas urinárias ou sexuais”, continua Ana Célia Caetano.

Outra situação frequentemente associada a longos períodos na sanita é a patologia hemorroidária que resulta do inchaço e distensão das veias que existem na parte inferior do reto e no ânus. Segundo a Universidade de Harvard, existem dois tipos de hemorroidas: as internas, situadas na parte inferior do reto, e as externas, que estão à volta do ânus.

Os sintomas associados à patologia hemorroidária podem ser “perdas de sangue vivo, desconforto anal e prolapso das hemorroidas”, explica a gastroenterologista.

A utilização de aparelhos tecnológicos – como o telemóvel – ou de elementos de leitura na casa de banho pode ser um dos fatores responsáveis pelo aumento do tempo despendido na sanita. E esta utilização poderá estar relacionada com situações de obstipação, segundo um estudo científico desenvolvido em Portugal, liderado por Ana Célia Caetano.

Esta investigação analisou a relação entre a prevalência de obstipação e os comportamentos de saúde e rotinas na casa de banho, tendo por base inquéritos realizados a perto de dois mil indivíduos, em Braga. 

Nas conclusões, os autores referem que as pessoas que sofrem de obstipação passam, em média, mais de cinco minutos na sanita e têm comportamentos particulares para ajudar a defecar, tais como o recurso a gatilhos ou a utilização de material tecnológico e de leitura.

A especialista reconhece que “há pouca informação científica sobre um limite de tempo para estar na casa de banho”, mas ressalva que “um estudo interessante realizado em doentes com doença hemorroidária refere três minutos” como tempo médio ideal para evitar problemas.

Além do tempo, que “deve ser tendencialmente inferior a cinco minutos”, Ana Célia Caetano destaca a importância de seguir outras boas práticas.

Algumas dessas medidas passam por “não usar o telemóvel, material de leitura ou jogos [na sanita], colocar um banco sob os pés para elevar os joelhos (o que melhora o ângulo de evacuação, tornando-o mais fisiológico possível), não esquecer de beber água, comer fibras e praticar exercício físico.”

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